Tenho um amor um pouco contraditório por Kirby. Eu amo ele. Kirby é o personagem de videogame mais perfeito já criado. Kirby é redondo, Kirby é rosa, Kirby dorme e come, Kirby derrota demônios e deuses com um só poyo. É como um gato, mas sem pelo e com o próprio poder de copiar a habilidade de tudo que toca. É impossível não querer ser amigo do Kirby.

Mas, ao mesmo tempo, nunca gostei muito de jogar Kirby. Além de alguns spin-offs, toda vez que experimentei um, desisti antes de terminar. Não tenho problemas com jogos de plataforma fáceis, mas os jogos do Kirby sempre pareceram "mais do mesmo". Mesmo em Planet Robobot, provavelmente o melhor jogo Kirby 2D, não consigo me lembrar muito dele sem misturar tudo na minha cabeça. É fácil ver por que as pessoas amam, mas não foi para mim.

Então, quando digo que Kirby and the Forgotten Land é um dos meus jogos favoritos de todos os tempos, quero que você entenda o quão poderosa é essa frase. É TÃO DIFERENTE de tudo o que veio antes e, ao mesmo tempo, tão familiar com o que esperar de um jogo do Kirby. Toda a ideia de um jogo do Kirby mudou de perspectiva para mim quando comecei a jogar Forgotten Land.

...sim, foi uma piada, é o primeiro jogo 3D da franquia, tipo, de todos os tempos. Na verdade, toda a coisa do 3D tão impressionante para mim. Foi perfeito e eles conseguiram traduzir a jogabilidade perfeitamente. Mas quando você faz o primeiro jogo 3D de uma franquia, e esse fato nem é a coisa mais impactante de todo o título, você sabe que criou uma obra-prima. E a HAL fez isso mesmo.

Strange horizon. Ready to go.

Existe um conceito de cinema que é muito importante para verdadeiros clássicos que querem ser memoráveis: set pieces. A ideia aqui é investir muito dinheiro, produção e tempo para criar uma cena tão impactante, tão incrível, que será lembrada mesmo anos depois de assistida. Se você quiser resumir um filme com boas set pieces, provavelmente apenas os citará em ordem e todos se lembrarão de que filme você está falando.

Este conceito também pode ser aplicado em videogames, é claro, e há muitos clássicos dos jogos que fazem isso muito bem. Para mim, até agora, os jogos do Kirby não tinham tantas set pieces memoráveis. Pra citar alguma, seria como ele despeja toda a história perto do fim do jogo – que provavelmente foi tão absurdo (com uma grande criatura semelhante a um deus e uma história de fundo trágica) que se torna memorável em comparação. Eu terminava um jogo do Kirby e todas as lembranças viravam uma bagunça na minha cabeça, sempre isso.

Forgotten Land é o oposto. Você pode me mostrar o nome e o título de qualquer nível do jogo inteiro e eu vou lembrar de algo dele. Em diferentes níveis de impacto, cada fase deste jogo tem algo diferente para ser vivenciado. Às vezes, é apenas uma pequena mecânica, como um grande inimigo que você pode derrotar. Outras vezes, é um cenário incrível e lindo com uma montanha-russa (sem mais spoilers do que isso) tão legal que eu e minha esposa repetimos SEIS VEZES, consecutivamente, só para jogar de novo.

Ter um novo cenário ajuda muito na criação desses momentos. Por mais que eu ame a fofura de Dream Land, não consigo mais ver uma fase a la Green Greens e ficar emocionado, sabe? Mas este “novo mundo”, esta literal Terra Esquecida, é tão diferente e familiar ao mesmo tempo. Esta ideia de um lugar pós-apocalíptico, abandonado pela natureza humana e consumido novamente pela natureza consciente... E eles aumentam isso ainda mais, mostrando diferentes estilos de cidade, criando níveis em torno de estruturas feitas pelo homem e provavelmente muito mais shopping centers de que precisavam.

E todo o resto do jogo acompanhou o cenário para ficar ainda mais memorável. Embora os mini-chefes ainda sejam apenas “inimigos normais porém grandes”, o Beast Pack — os grandes vilões aqui — são enormes, ferozes, literalmente selvagens. A trilha sonora também é muito boa nessa ideia de misturar familiaridade e curiosidade. Eu sei que minha música favorita é o tema vocal principal, mas você já ouviu o remix do tema do Rei Dedede nesse jogo? Eu posso matar uma fera com minhas próprias mãos só de ouvir esse HINO. (não, não posso)

O toque final para o "novo mundo" para mim é a Waddle Dee Town. Sempre adorei os Waddle Dees e vê-los construir uma vila inteira enquanto você os resgata é tão fofo! — e uma ótima maneira de integrar todo o conteúdo extra além da história principal. Gosto muito desse conceito de evoluir seu status durante um jogo (falaremos mais sobre isso em um segundo), é tão gratificante esse processo que se torna metade da diversão para mim. Terminar uma fase e ler "Há coisas novas em Waddle Dee Town para você!" sempre me deu um sorriso.

No one can hold you back. New fields full of mystery.

É muito bom ter um cenário incrível, mas isso ainda é um jogo! Esses set pieces legais de que falei antes são sempre interativos. Alguns deles são apenas um bom level design, mas muitos deles têm uma ótima mecânica por trás: se a coisa for muito grande, Kirby não copia sua habilidade, mas em vez disso se torna parte dela no Mouthful Mode! Para os gamers, é como o poder de captura de Cappy em Super Mario Odyssey. Para as crianças dos desenhos animados dos anos 2000, é como o alien Ultra T do Ben 10.

Então, se você encontrar um cone de trânsito, Kirby pode engoli-lo e usar seu lado pontiagudo para atacar inimigos ou quebrar paredes ao bater no chão. Ou se Kirby engolir uma máquina de vender bebidas, ele se tornará uma metralhadora de refrigerante. OU SE KIRBY ENGOLIR UM CARRO, NASCE O KIRBY CARRO. Car-Mouth Kirby é uma das imagens mais fofas já imaginadas pela humanidade desde que a primeira pessoa abriu os olhos. Meu filho se chamará Carby por causa dele. Protegerei o Kirby Carro para sempre.

Esses pequenos momentos de mudança de jogabilidade são muito legais. Não só para permitir set pieces mais incríveis, mas para quebrar a monotonia do “Kirby a pé” que pode rolar. Não há muitos Mouthful Modes disponíveis, e muitos deles são reciclados durante a aventura, mas é um recurso muito divertido de qualquer maneira. Posso ser Kirby e um carro ao mesmo tempo! Perfeição.

Agora que citei o "Kirby a pé", acho que este é o jogo que finalmente tornou as Copy Abilities realmente divertidas para mim. Em conceito, o poder de obter a habilidade dos inimigos é incrível: você pode obter habilidades diferentes a cada nível, encontrar seus favoritos e ficar com eles (até que um coletável obrigue a usar uma Copy Ability específica). Na prática, você vê tudo o que está disponível no primeiro mundo do jogo e vai só usando até terminar.

Em Forgotten Land, as Copy Abilities podem ser evoluídas e nunca fiquei tão feliz em um jogo do Kirby antes. Para começar, os "projetos" que você precisa para desbloquear os upgrades às vezes ficam bem escondidos nos níveis, servindo como um item colecionável bem legal. Então, você precisa das Rare Stones vindas dos estágios de desafio como moeda – nunca me importei com elas antes, mas com a variedade de jogabilidade aqui, elas se tornaram pequenos e interessantes quebra-cabeças.

Quando você melhora uma Copy Ability, ela não perde sua essência, mas ganha novos visuais e habilidades extras a partir daí. Fire faz Kirby cuspir fogo, mas Volcano Fire Kirby pode atirar pedras de magma em chamas muito mais longe. A nova Ranger dá a Kirby uma Arma™, mas o Noble Ranger Kirby pode usar essas pistolas como metralhadoras se segurar o botão antes de atirar. O esquema de controle é o mesmo, mas a sensação de poder e descoberta muda completamente a cada nova evolução.

Não quero dar mais spoilers, mas alguns deles são até inspirados em inimigos e chefes — obtê-los de alguma forma parece ainda mais gratificante. Jogos como RPGs têm esse conceito de mostrar a evolução de poder do jogador, principalmente ligado a muitos números e fórmulas. Mas Forgotten Land acabou encontrando uma maneira fácil e visual de tornar Kirby ainda mais poderoso, permitindo ao jogador experimentá-lo mudando o elemento mais básico da franquia. As roupas novas que Kirby ganha são 60% da legalzice, é importante lembrar.

Feast your eyes on a new world!

Comecei a jogar Kirby and the Forgotten Land esperando por Kirby em 3D. Nada mais do que isso. Um bom joguinho controlando o melhor personagem já feito. Mas consegui muito mais. Um mundo incrível, com set pieces interessantes e personagens memoráveis. Uma trilha sonora que vale a pena ouvir em loop por dias. Uma mecânica hilária para permitir novas possibilidades. Um sistema de evolução que ninguém pediu, mas que mudou o jogo para mim.

Eu me diverti tanto que literalmente joguei duas vezes, ao mesmo tempo. Primeiro como o protetor Waddle Dee da minha esposa, depois novamente como Kirby em outro save. Já fiz todas as Treasure Roads, até terminei o coliseu. Para uma franquia com a qual nunca me importei muito, estou tão surpreso quanto você com o quão feliz estou agora. Se esta é a nova base para os jogos do Kirby, me dá mais dessa bolinha rosa e amarei os videogames para sempre.