Slipstream
A vibe dos anos 90 exatamente como você pode lembrar dela
A nostalgia é um fator importante para entender a indústria de games hoje em dia. É claro que novas IPs e conceitos são lançados toda semana, mas provavelmente nunca tivemos tantos títulos novos olhando para o passado como inspiração (ou, às vezes, apenas como propaganda). Não estou falando apenas de ports, remasterizações ou coleções, mas também de todas as sequências e sucessores espirituais que vemos hoje. Neste ponto, ser “retro” é quase um gênero em si, para desenvolvedores independentes ou grandes empresas.
Alguns deles apenas usam isso como uma desculpa para usar princípios de design desatualizados (sem entender por que usá-los) ou visuais fracos de pixel art para atrair falsamente um público que sente falta dos velhos tempos. Slipstream é completamente o oposto disso. Criado como uma carta de amor à era dos jogos de corrida de 16 bits, este título criado pelo desenvolvedor solo brasileiro ansdor entende e respeita a nostalgia de Top Gear (e tantos outros contemporâneos) para criar algo original, mas extremamente familiar.
(uma nota pessoal: nós, brasileiros, adoramos dar um "título honorário de cultura brasileira" a algumas específicas coisas gringas. fizemos isso com o Chaves, fizemos isso com o Pica-Pau, e definitivamente fizemos isso com Top Gear. se você ver algum projeto inspirado no Top Gear feito nessa década, pode apostar que tem algum brasileiro envolvido, e fico sempre feliz quando lembro disso)
Em termos de conteúdo, Slipstream é um jogo de corrida arcade realmente simples. Você escolhe um carro, algumas opções (como drift manual ou automático) e um modo de jogar. Alguns são clássicos do gênero, como ir contra o relógio, em corridas individuais ou em um Grand Prix de 4 corridas, mas você também tem alguns diferentes, como o modo Battle Royale. O meu favorito, porém, se chama Grand Tour: você faz uma grande viagem panorâmica entre cinco fases diferentes (que você pode escolher durante a corrida), e ganha pontos tentando superar um rival em cada volta.
Mecanicamente, ele também homenageia os jogos antigos, mas, para mim, não é exatamente para o bem: Slipstream é uma experiência simples demais para um jogo de corrida arcade feito para um público atual. Virar o carro e sentir a aceleração é ótimo, responsivo e muito bem feito, e há algumas funções interessantes de acessibilidade, que também podem ser usadas para personalizar sua experiência se você não estiver muito familiarizado com o estilo do jogo. Se você estiver realmente mal, você tem uma função de retroceder que pode ser usada após bater o carro (o que geralmente me colocava em uma posição de bater o carro de novo, mas, né).
Além dessas opções, você só pode derrapar para passar por curvas fechadas e obter mais velocidade ficando atrás de outro carro — também chamado de "slipstream", isso pode dar um grande impulso se você não bater muito o seu veículo. Com a maioria das fases sendo completamente planas e difíceis de distinguir entre si, eu esperava que o gameplay tivesse a mesma variedade que os visuais tinham. Foi bom jogar, mas a experiência se tornou repetitiva cedo demais para mim.
MAS FALANDO SOBRE ISSO, SLIPSTREAM É UM JOGO LINDO. Estou muito feliz que meu Switch estava no dock quando comecei o jogo pela primeira vez, porque o trabalho visual deste título é genuinamente espetacular. Todas as cores e pixels simplesmente saltavam da TV, e nas primeiras corridas, eu estava perdendo posições só para apreciar aqueles gráficos. Em vez de se limitar às capacidades de um Mega Drive, por exemplo, ele apenas foi além e colocou na tela o que toda criança dos anos 90 realmente imaginava que fossem os jogos da época. O efeito VHS no retrocesso também foi um toque muito legal.
Eu realmente acredito que novos jogos que usam a nostalgia como ponto de partida não devem apenas me dar mais do passado. Se eu quisesse jogar a mesma coisa de novo, eu só vou e jogo as mesmas coisas de novo. Slipstream tem algumas falhas, mas faz um trabalho incrível ao trazer a mesma vibe e sentimento em um jogo novo e original. Mecanicamente ele não faz tanto, mas visualmente ele transforma memórias em pixels em uma tela de forma espetacular. Para a década de 2020 pode ser um pouco repetitivo, mas não há dúvida de que numa realidade alternativa da década de 1990 (e no coração de quem a viveu), Slipstream já é um clássico.