Backfirewall_
O que acontece com seus apps enquanto você dorme?
Sempre fiquei fascinado com o quão profundo a imaginação humana pode ir quando confrontada com o desconhecido. Por exemplo, o universo Tron sempre foi TÃO LEGAL para mim. Eu tinha 12 anos quando Tron: O Legado foi lançado e não me importei muito com o enredo, e anos depois tentei assistir o Tron original e dormi metade dele. Dito tudo isso, esse mundo cibernético de discos e motocicletas neon, com heróis feitos de software e vilões sendo literalmente o "Programa de Controle Mestre" é incrível. Sempre fui uma criança que adorou tecnologia e coisas relacionadas, então foi especialmente legal conhecer esse mundo.
Se ainda hoje as pessoas pensam que os computadores são máquinas mágicas, nos anos 80, é claro que criariam uma sociedade inteira em torno de meia dúzia de termos e chavões do ramo. Hoje, como uma pessoa que estudou ciência da computação por quase uma década, eu acabo encarando isso mais como um cenário de ficção científica que acontece em um “mundo virtual”. Mesmo assim, Tron é legal e preciso jogar mais títulos da franquia no futuro.
Mas por enquanto quero falar sobre Backfirewall_, uma pequena aventura feita pela equipe suíça Naraven Games, e publicada pela All in! Games (que também publicou Ghostrunner e Tools Up!). Você pode ver a premissa e pensar que ela é muito derivada de Tron: uma história dentro de um smartphone, onde todos os apps são criaturas vivas e o sistema é uma sociedade por si só. Mas, em vez de uma odisseia neon de ficção científica, ele vai mais para a ideia de uma trama digital tragicômica, onde não há bom ou ruim, e os aplicativos só querem salvar suas próprias vidas do iminente apertar da tecla Delete.
Nesta história, você é o Assistente de Atualização, um novo app cujo único objetivo na vida era possibilitar o processo de atualização do sistema operacional. A personificação do sistema antigo, OS9, não está muito feliz com a ideia, porque ele será completamente deletados no processo... e você também, porque você não teria mais propósito para existir. Tudo o que acontece depois disso é apenas a aventura desses dois apps, viajando pelo smartphone, disparando erros para reiniciar o sistema antes que a atualização termine.
Não acho que o enredo por si só seja incrível: algumas piadas não acertam, e o único momento que foi realmente emocionante (e me pegou de surpresa) não teve muita repercussão. Mas o mundo inteiro ao redor é TÃO interessante que eu simplesmente não conseguia parar de jogar – na verdade, comecei e terminei na mesma noite. A maioria dos personagens são totalmente dublados (em inglês), o que ajuda muito a dar carisma e personalidade a eles. OS9, o sistema operacional que será excluído em breve (e o seu parceiro durante o jogo) é um óbvio favorito, mas há muitos outros personagens a serem amados, como a personalidade insegura de Social Media F ou meu grande amigo Wat, como alguém não pode gostar do Wat?
Os cenários em si também foram muito interessantes. Sim, sou bacharel em ciência da computação e toda referência bem feita a coisas técnicas me marca sempre – ainda gosto da piada com o Geocities em WiFi Ralph –, mas muito do mundo de Backfirewall_ foi feito por alguém que entende os bits e bytes por trás de um computador. Como uma atualização de sistema é um chamado à morte para o antigo SO, o quanto eles amam e adoram seu usuário como uma deusa, e até mesmo as pequenas coisas que rolam nos diálogos!
Uma das minhas histórias paralelas favoritas é a saga do Social Media I para obter acesso às fotos do usuário, brigando com o aplicativo de galeria ou apelando para irritantes notificações push. Há muita licença poética envolvida, é claro, mas parece mais “digital” do que Tron jamais pareceu.
Infelizmente, jogar Backfirewall_ é bem menos interessante do que conhecer seu mundo. Metade do tempo você está em cenas roteirizadas apreciando a história, mas logo aparece o convite para passear livremente pelas salas do smartphone. OS9 te dá um checklist de erros que você precisa acionar naquela parte do sistema, e seu trabalho é explorar e interagir com os objetos e personagens até conseguir todos eles para progredir. Esses puzzles são realmente fáceis – e aqueles que não envolvem conversar com ninguém são geralmente chatos.
Sua principal forma de interagir com o mundo é através de "códigos de trapaça", que, no papel, permitiriam que você manipulasse o sistema e tudo ao seu redor. Na realidade, eles só servem para alterar a gravidade, a cor ou remover objetos. Esta ideia de mudar a realidade tem muito potencial – e, num mundo digital, é muito fácil de incorporar na lore do mundo. Mas aqui, basta clicar uma dúzia de vezes e você já pode ir para a próxima parte do jogo.
O que mais me surpreendeu foi a tonelada de itens colecionáveis que você pode conseguir no Backfirewall_. É MUITA COISA. Os únicos que valem pra algo além de uma conquista são algumas mensagens do usuário (que contam a história paralela do que está acontecendo com a dona do telefone) e vários aplicativos menores que você pode ajudar durante sua jornada. Todo o resto está lá apenas para coletar. Adoro encontrar coisinhas e acumulá-las, mas quando eles estão realmente escondidos, não há dicas e você não pode voltar às áreas anteriores, só vira uma tarefa frustrante.
Equilibrando os prós e os contras, "assistir" Backfirewall_ valeu a pena, embora jogar não tenha sido tão bom. Tem alguns puzzles esquecíveis, algumas partes na história que não clicam e um sistema frustrante de itens colecionáveis inúteis. Mas em torno disso, você tem um dos mundos mais interessantes criados com base na premissa de “o que acontece dentro de um computador” que eu já vi. Você tem personagens carismáticos, algumas boas piadas e um conceito mais verossímil (e tecnicamente preciso?) de sociedade digital. Não é mais legal que as motocas de luz em Tron — não há muitas coisas mais legais que as motocas de luz em Tron —, mas a saga de OS9 para sobreviver foi muito divertida por algumas horas. Talvez você também (não) precise de uma atualização.