Slash Quest
Nenhuma espada é grande demais para esse improvável cavaleiro
Embora, como uma pessoa totalmente adulta e madura, eu entenda por que jogos exclusivos existem e como eles ainda são e sempre serão uma forma de obter financiamento, fico sempre triste quando um título está por trás de um serviço ou plataforma, especialmente quando não está vinculado a um esquema de controle específico. De todas as assinaturas que temos hoje no mercado, a que mais ignoro é o Apple Arcade, porque não tenho um dispositivo iOS ou um Mac, então preciso esperar os jogos saírem de sua prisão monocromática para aproveitá-los.
O último a se libertar foi Slash Quest, lançado originalmente no serviço em 2020, mas que só agora está disponível no Steam. Na verdade, ele foi criado por duas equipes de desenvolvimento brasileiras durante uma game jam — Big Green Pillow (do multiplayer de 2015 Porcunipine) e Mother Gaia (do aguardado Posthumous Investigation) — e eu estava muito animado para ver o que todas essas pessoas poderiam fazer juntas.
Rodando e crescendo
Slash Quest conta a história de Ovelheiro, um pequeno fazendeiro que encontra uma espada mágica falante chamada Espadinha (!) e parte em uma jornada para encontrar a rainha desaparecida da lâmina em um mundo cheio de monstros. Desde o começo, o carisma desses dois personagens (e, para ser justo, todo o elenco depois deles) me deixou totalmente envolvido com o jogo, ainda mais do que o enredo em si. É tão legal como Ovi é ingênuo e só "fala" usando emojis, mas Espadinha não consegue parar de falar sobre como ele é uma arma real e merece ser tratado como tal.
É impossível começar uma análise sobre Slash Quest sem falar sobre os controles. A ideia aqui é que Espadinha é o "herói" da aventura e Ovi está apenas indo junto para movê-lo. Em vez de usar apenas um direcional comum, você usa os botões de trás (ou o analógico) para girar Espadinha em um círculo e um botão para fazer Ovi correr para frente. É tipo aqueles controles de tanque em jogos antigos, mas mais fluidos, dinâmicos e um pouco escorregadios.
Quase toda a diversão no jogo é entender como controlar a dupla, o que torna até mesmo alguns níveis mundanos em algo que vale a pena tentar. Outro aspecto realmente satisfatório desse movimento é que há muitos elementos destrutivos no cenário, então mesmo que você não consiga movê-los em linha reta, você ainda se sente bem cortando árvores e placas enquanto ouve elas estourando como uma bolha.
A "mágica" por trás da Espadinha, além de não poder parar de se gabar, é a outra gimmick de Slash Quest. Embora a lâmina pareça pequena quando você começa uma fase, Espadinha fica maior para cada inimigo que você derrota, no ponto em que pode realmente acabar com todos os inimigos na tela em apenas uma rotação. Embora aumente o desafio de controle — toda vez que você bate em uma pedra, você perde um pouco de tamanho — não há muitos usos para isso além das partes simples de combate.
Cortando em camadas
A história principal de Slash Quest é, para ser justo, relativamente fácil, mas não de um jeito ruim. Você tem 16 níveis e 4 chefes, divididos em 4 mundos com alguns temas genéricos, como "o da lava" e "o de gelo". Os momentos mudam entre pequenas arenas de combate e alguns quebra-cabeças que exigem o uso da própria Espadinha — como empurrar alavancas para abrir caminhos ou colocar fogo na lâmina para queimar obstáculos. A progressão é linear e, tirando os últimos puzzles que me deram uma cansada pro meu cérebro, o jogo é mais uma aventura aconchegante, perfeita para relaxar depois de um dia de trabalho.
Mas sair correndo para terminar um nível de Slash Quest é a pior coisa que você pode fazer. A melhor parte do jogo é tentar encontrar caminhos extras e baús de tesouro que dão joias para personalizar a dupla (ou dinheiro para comprar e melhorar outras joias). Existem algumas habilidades passivas e ativas que podem ser úteis em combate, mas 80% dos desbloqueáveis são opções de personalização para a roupa de Ovi e o rastro que Espadinha deixa ao ser rodada. Cada fase tem pelo menos seis baús e alguns deles são desafios realmente legais de superar, especialmente se você acha que a história principal parece sem graça.
Se você ainda precisa de mais um passo na complexidade, Slash Quest ainda tem muitos desafios extras para serem jogados que exigirão muito domínio de Ovi, Espadinha e dos controles estranhos. Alguns são minijogos focados em conseguir pontuações cada vez mais altas, mas alguns deles são tarefas difíceis de serem feitas em mapas especiais, como sobreviver por um período específico de tempo com muitos inimigos na tela.
Embora o prêmio por terminá-los fosse ainda mais opções de personalização — incluindo alguns eventos sazonais, ganhei muitos equipamentos esportivos por causa das Olimpíadas —, definitivamente não é tão aconchegante como os níveis da história e eu não me envolvi muito com eles (além do minigame de refletir flechas que é bem legal). Dito isso, posso ver quantas pessoas vão amar isso mais do que o resto do conteúdo do Slash Quest com certeza.
Sem cortar (!) muitos detalhes, eu realmente gostei do meu tempo em Slash Quest. É um bom pacote de mecânicas e carisma que nem sempre é espetacular, mas sabe como utilizar suas gimmicks bem o suficiente para criar uma aventura divertida, envolvente e realmente fofa, com muitas camadas que permitem aos jogadores escolher o quanto querem se aprofundar no jogo sem bloquear a progressão. Estou muito feliz que essa espada esnobe finalmente esteja livre para ter missões fora do reino da Apple, e se você só quer um tempo aconchegante com ela, eu só peço que você segure firme e tome seus remédios pra tontura...