Penny's Big Breakaway
Um platformer 3D pra amantes do gênero que não roda bem com um público maior
A expectativa pode realmente mudar a forma como você experimenta qualquer coisa, incluindo jogos. Às vezes, é por causa de fatores externos — quem não teve um filme que um amigo elogiou por MESES e quando você assistiu, era só OK? O filme provavelmente era bom, mas você esperava ainda mais. Só que às vezes, as expectativas vêm de como um produto é apresentado a você no material oficial de propaganda.
Ficou claro para mim o que eu esperava de Penny's Big Breakaway, título de estreia da Evening Star (estúdio formado por desenvolvedores de Sonic Mania) e publicado pela Private Division. O jogo foi anunciado e lançado do nada na Nintendo Direct, a casa de alguns dos jogos de plataforma 3D mais acessíveis já feitos.
Apresentava sequências animadas e uma música incrível, além de alguns dos personagens mais cartoon que o gênero viu nos últimos anos. Ao falar sobre o jogo, o narrador me convidou para uma grande aventura e me disse que minha “alma de speedrunner” adoraria o modo Time Attack, então deveria ter algo para todos, certo? ...bem, eu estava errado.
O que eu estava esperando
OK, não exatamente errado, o jogo realmente tem lindas sequências animadas: elas ajudam a contar uma história não-tão-boa, mas também são um meio para mostrar um ótimo design de personagens! Penny é tão expressiva que quero ter um boneco dela na minha sala. Depois de cometer um erro na frente do Imperador Eddie, ela se torna uma fugitiva que precisa fugir de um monte de pinguins estupidamente fofos até que finalmente consiga sua grande chance de alcançar seu estrelato. Seu único companheiro é Yo-Yo, um ioiô (!) parecido com um cachorro que é usado como o seu principal modo de se mover e agarrar coisas (e também foi quem comeu as calças de Eddie, então a culpa é meio que dele).
O jogo também é muito colorido como nos trailers (às vezes até demais). É ótimo ter esses cenários brilhando na tela, mas achei difícil diferenciar alguns dos mundos do jogo. A maioria é apenas o mesmo piso com uma tonalidade diferente e um ou dois novos elementos de gameplay. Dito isto, Penny's Big Breakaway sabe como ser um jogo visualmente lindo, não importa quando você olha para ele.
Dito isto, a melhor coisa que este jogo faz para criar a atmosfera de cada mundo é a música. Esta trilha sonora já é uma das melhores de 2024! Toda música é incrível, e às vezes eu simplesmente parava de mover Penny com o controle apenas para continuar ouvindo. Tee Lopes, o compositor de outras grandes trilhas, fez um de seus melhores trabalhos até hoje, e é ótimo vê-lo mostrando seu poder harmônico além dos temas de Sonic the Hedgehog. Sean Bialo, não te conhecia até então, mas já adoro seu trabalho. Vocês dois foram incríveis.
Penny's Big Breakaway é um delírio para os olhos e para os ouvidos, qual é o problema dele então? No momento em que comecei a jogar o tutorial e aqueles primeiros níveis, entendi quem era o público-alvo deste jogo e qual era o meu problema com ele.
O que eu não estava esperando
Joguei muitos platformers 3D na minha vida e a maioria deles se concentra muito em conseguir uma ótima maneira de movimentar seu personagem. É a ação principal que você fará durante todo o jogo, então faz sentido. Em game design, podemos chamar muitas dessas interações possíveis entre o jogador e as mecânicas como verbos. Por exemplo, em Super Mario Odyssey, os verbos mais simples que você pode ter ao mover o Mario são pular, correr e arremessar o chapéu.
A grande vantagem desses verbos simples é que eles são provavelmente os únicos que você precisa usar para terminar a história principal, mas também, ao mesmo tempo, são ingredientes para interações ainda mais complexas e avançadas. Você pode pular em uma escada degrau por degrau e chegar ao topo, ou pode dar um salto triplo, jogar o chapéu, pular nele e depois mergulhar. Essa flexibilidade não só pode ajudar a separar objetivos e desafios através dos níveis de domínio, mas também permite que os jogadores controlem a complexidade de suas ações.
Claro, Mario é o rei dos jogos de plataforma e não é tão justo comparar-se com ele, mas muitos jogos seguem a mesma ideia: verbos simples que são a fonte de uma árvore complexa de ações e possibilidades. Penny's Big Breakaway, porém, vai na direção oposta. Já no tutorial, o nível zero do jogo, você é apresentado a muitas ações complexas, com pequenos detalhes que podem mudar completamente o resultado do movimento de Penny.
Por exemplo, você tem um botão para pular, e se você pressioná-lo novamente, você pode dar um salto duplo... mas esse salto duplo não lhe dá muita altura (a menos que você esteja perto de uma plataforma, então você pode se agarrar na borda e ganhar impulso). O que você precisa fazer é usar o botão do ioiô para prendê-lo no ar e se pendurar nele, e então pular novamente quando chegar ao pico. Mas você precisa fazer isso rápido, porque conforme você fica pendurado, você vai perdendo altura.
Eu precisava pensar em todas essas variáveis só para atravessar um buraco grande. Não é tão difícil de fazer, mas parece muito mais complexo do que deveria ser! Outro exemplo é quando você pressiona o botão de gatilho para "montar" no ioiô e ficar mais rápido... somente se você já tiver impulso suficiente para começar o movimento. Você pode segurar o botão pra "carregar", mas ele só funciona se você estiver completamente imóvel. Senão você monta no ioiô e para de se mover, é até um pouco engraçado.
Como essas ações são mapeadas para o controle também é muito estranho. O botão do ioiô, quando pressionado no chão, é um ataque semelhante a um chicote. Mas se você pressioná-lo duas vezes, Penny dá um "dash" tão rápido que é difícil mudar de direção. Então, quando um enxame de pinguins vem em sua direção e você tenta atacá-los várias vezes, você sempre ativará o dash e provavelmente vai cair no precipício. Em todos os níveis, você precisa levar tudo isso (e muito mais) em consideração, independentemente de quanto deseja investir para dominá-lo.
Lendo tudo isso você só pode concluir que acho o jogo mal feito, mas não é exatamente isso. Os desenvolvedores sabiam exatamente o que estavam fazendo em Penny's Big Breakaway. Depois de entender esse complexo sistema de ações e poder começar a improvisá-las e encadeá-las, você se sentirá como o deus do movimento. Basta assistir a qualquer vídeo de “combo máximo” e você ficará surpreso com o quão longe alguém com maestria pode ir nesse jogo. Contadores de combo, multiplicadores de pontos, vidas, checkpoints distantes, metas de pontos: todas as outras mecânicas do jogo estão lá para encorajá-lo a dominar o movimento (ou punir se não o fizer).
E tudo bem! Definitivamente há público para esse tipo de desafio. Mas eu não esperava que este jogo, aquele anunciado em um stream da Nintendo, aquele com personagens de desenhos animados, fosse um jogo de plataformas “focado em jogadores avançados”. Isso pode existir, claro — Cuphead é considerado um jogo difícil e é literalmente inspirado em desenhos antigos — mas isso também precisa ser bem comunicado no produto e não foi. Já vi muitos comentários sobre o jogo rotulando-o como "confuso e frustrante" e é isso que acontece quando a curva de aprendizado começa muito alta e você não fez um bom trabalho ao informar isso aos seus jogadores.
O que ninguém estava esperando
OK, digamos que você seja o público perfeito para este jogo, Penny's Big Breakaway é uma obra-prima profissional de plataforma 3D? Eu não acho. O design dos níveis não é ruim, mas não há muitas setpieces ou cenários memoráveis além dos chefes (e até mesmo alguns deles são abaixo da média). Quando você começa a fazer alguns combos, Penny sente que está usando técnicas de corrida rápida, ignorando partes inteiras do nível com suas travessuras de ioiô.
Existem alguns power-ups que podem ser encontrados durante os níveis que alteram as habilidades de Yo-Yo, como uma pimenta que permite andar rapidamente ou um martelo que pode ser usado para quebrar paredes de pedra. Eles são OK na maioria das vezes, mas alguns deles são de uso único E tem um limite de tempo para serem ativados... então você precisa correr para usar uma coisa que só pode ser usada uma vez, e eu não entendi ainda o porquê.
Mas o maior problema para mim e para todos que vão jogar, independentemente do tipo de jogador, foram os bugs. Eu sei (e espero) que a maioria deles será corrigida em breve em alguma atualização, mas é bizarro o quanto o Penny's Big Breakaway está bugado agora. Além dos travamentos completos, às vezes a geometria do nível era apenas uma mera sugestão para Penny, que era capaz de passar por paredes e cair no abismo muitas vezes. Ficar preso em qualquer objeto e ser forçado a reiniciar a partir do último checkpoint era menos comum, mas aconteceu vezes o suficiente para eu precisar comentar sobre.
O pior bug para mim foi durante uma luta de chefe que eu, ao tentar atacar pinguins, corri e caí no abismo. MAS ENTÃO o jogo trouxe Penny de volta FORA DA PLATAFORMA várias vezes, sem tempo para reagir. Sim, perdi todas as minhas vidas, e o jogo apenas reiniciou a luta desde o início. Não importa seu nível de habilidade com os controles, a frustração vai chegar em você de algum jeito.
Se você é um especialista em plataformas 3D, ou adora entender e dominar sistemas de ação complexos, ou apenas se diverte tentando montar um grande combo, você será capaz de superar os bugs e se divertir em Penny's Big Breakaway. Não só o título foi feito para jogar desta forma, mas você também poderá desfrutar dos ótimos visuais e da incrível trilha sonora que ele tem a oferecer. Mas, se você buscava uma experiência mais tranquila, com uma curva de aprendizado mais equilibrada, ainda pode se divertir, mas não sem uma frustração constante e borrifada. Existem jogos mais convidativos no mercado para você e este não parece que foi criado pra rodar bem (!) com públicos mais variados.