Crow Country
O Modo Exploração era exatamente o que meu cérebro medroso precisava
"Mas, Gabriel, você é a pessoa mais assustada que eu conheço, como você jogou E ADOROU um jogo de terror de sobrevivência?" Sim, todo mundo me disse isso na semana passada. Sempre adorei o trabalho da equipe da SFB Games desde que joguei Tangle Tower, e quando vi o próximo jogo deles seria Crow Country, um jogo de terror de sobrevivência inspirado em clássicos do PS1, eu fiquei meio assim... Por um lado, ele parecia muito bem feito, mas, ao mesmo tempo, tão distante do tipo das coisas que gosto de jogar. Adoro poder dormir à noite, sabe?
É porque este é um jogo de terror que não precisa ser um jogo de terror se você não quiser. Eu explico: Crow Country possui um recurso incrível chamado Modo Exploração, que desativa ataques inimigos e transforma a experiência em um “jogo de quebra-cabeça e aventura”. No momento em que vi isso, soube que Crow Country era minha oportunidade de experimentar um pouco de um gênero que sempre tive medo de tentar. E, como designer, fiquei curioso para ver como que um jogo funcionaria sem metade da sua premissa!?
Esta análise é toda baseada na minha experiência de jogo no Modo Exploração sendo uma pessoa que nunca jogou jogos de terror de sobrevivência antes, mas bem versada na resolução de puzzles. E como você já deve presumir pela nota, Crow Country é um ótimo jogo de aventura e puzzle, mesmo que você não mate nenhum monstro no caminho.
Sempre um parque de diversões abandonado
Na primeira cena somos apresentados à nossa protagonista Mara Forest, uma policial que vai para Crow Country, um pequeno parque temático abandonado que foi fechado há dois anos. Seu proprietário, Edward Crow, está desaparecido desde então, assim como mais informações sobre os incidentes que resultaram no esquecimento do local. A missão de Mara não é apenas descobrir mais sobre o parque e seus segredos, mas ela está determinada a encontrar Edward e a verdade.
A atmosfera criada pela equipe é realmente incrível e exatamente o que eu esperava desde o primeiro trailer. O parque parece assustador mesmo em seus melhores dias, com grandes estátuas e lixeiras com corvos, e suas áreas temáticas que iam de florestas fantásticas e bizarras a literais mansões assombradas. Mas o estado de abandono do local, com lixo espalhado pelo chão e mensagens de sangue nas paredes dos corredores estreitos, realmente me deixou intrigado com o que estava acontecendo.
Para ser justo, acho que esse foi o primeiro impacto que tive no meu jogo por causa do Modo Exploração. Esta opção não remove apenas o combate, mas também todos os monstros, armadilhas, jumpscares e tudo que possa machucar Mara, essencialmente. Além dos NPCs “amigáveis”, Crow Country está completamente vazio e parecia quase um espaço liminar. Um lugar que deveria estar cheio de crianças rindo e correndo era um vazio decorado e esse fato criou mais uma camada de mistério para mim, na verdade. Principalmente quando você percebe que, em vez de matar os monstros, seus corpos apenas aparecem mortos nas salas, mas mortos por alguém que não é você.
Eu sei que tinha uma garantia "fora do mundo do jogo" de que nenhuma criatura mataria meu personagem e isso provavelmente me ajudou a me sentir mais seguro, mas eu realmente não estava com medo de explorar Crow Country. A trama que você começa a desenrolar nos primeiros minutos possui elementos confusos a princípio, que vão se expandindo e se conectando durante o jogo. Parecia que eu estava no resultado de uma tragédia e meu trabalho era juntar os pedaços e dar um pouco de paz a todos que sobreviveram à catástrofe.
Nesse processo, descobri também que não odeio tanto terror do jeito que imaginei, pois a atmosfera do jogo ainda é muito "assustadora" mesmo no Modo Exploração. Você ainda verá corpos de criaturas no chão, entrará em edifícios assustadores e encontrará coisas nojentas. Se essas coisas não são interessantes (ou, pelo menos, intrigantes) pra você, então remover os jumpscares e o combate não vai ser suficiente, e tudo bem, Crow Country ainda é um jogo de terror, afinal.
Visualmente, a equipe da SFB Games acertou em cheio na estética do jogo 3D da maneira perfeita possível. Não acho que um PlayStation ou um Nintendo 64 possam renderizar qualquer cena desse jogo como foram apresentadas, mas Crow Country é exatamente como sua criança interior se lembra desses jogos. Os cenários são detalhados o suficiente para que você possa ver facilmente itens para coletar ou até mesmo pistas para alguns quebra-cabeças, mesmo nesse estilo meio "baixa resolução". Ainda estou impressionado.
Solucionando os mistérios d'O Corvo
A atmosfera é excelente, mas como Crow Country funciona quando você remove o combate? Pode ser chocante, mas... parece um jogo de aventura e quebra-cabeça! Você explora o local, encontra segredos, coleta itens, resolve puzzles e avança na trama até terminá-la e entender o que está acontecendo, em uma progressão linear (mas bem feita). Você ainda tem uma arma — e alguns enigmas só são resolvidos com um bom tiro — e ainda pode coletar kits médicos e antídotos, mas quase não há utilidade para eles, já que Mara não pode ser prejudicada de forma alguma durante este modo.
Os puzzles em Crow Country são inspirados em diferentes tipos de jogos: alguns deles são mais como jogos de apontar e clicar (onde você coleta itens e os usa em um lugar diferente), outros são mais como jogos de sala de fuga (onde você pode usar os arredores como pistas para achar um código). Eles não são tão complicados e isso não é um problema, mas a quantidade de dicas que você tem para cada um é.
Uma fonte comum de informação no jogo são as notas deixadas pelos funcionários do parque nas paredes, e às vezes você tem 2 ou 3 diferentes falando a mesma coisa sobre o mesmo quebra-cabeça. Imagino que no modo de terror de sobrevivência original, seu raio de exploração seria menor e você não conseguiria encontrar todas aquelas dicas repetidas, mas na minha experiência, tudo parecia muito guiado. Isso não impede que você se sinta bem ao resolver os interessantes puzzles disponíveis, mas jogadores avançados podem ficar um pouco irritados.
O inventário também funciona um pouco diferente do que eu esperava. Em vez de serem objetos consumíveis, todos os itens que você encontra são ferramentas permanentes que serão usadas diversas vezes (tirando munição e kits médicos, obviamente). Por exemplo, se você encontrar uma chave, pode apostar que tem pelo menos duas portas para abrir com ela. Pessoalmente gostei dessa abordagem e me ajudou a entender o mapa mais como uma masmorra de Zelda, onde cada novo item pode expandir suas maneiras de interagir com o mundo, em vez de ser apenas algo de uso único.
No final, ainda estou impressionado por não ter perdido o aspecto de terror do jogo ao optar pelo Modo Exploração. Depois de terminar a história, assisti a alguns vídeos de gameplay da “experiência original” e não achei que tivesse perdido muita coisa (para o meu gosto , pelo menos). Se você gosta de atirar em monstros e recursos escassos, você definitivamente deveria optar pelo modo Survival Horror, mas Crow Country é um incrível jogo de aventura e puzzle, mesmo sem ele.
Jogar Crow Country foi libertador para mim, porque foi essencialmente meu primeiro jogo de “terror”, mas também foi um argumento irrefutável de como um bom game design pode ajudar um título a encontrar um novo público. Sim, o Modo Exploração pode perder um pouco da diversão de atirar por aí, mas o mistério intrigante, os personagens legais e os quebra-cabeças interessantes foram suficientes para não apenas criar uma boa experiência, mas também me prender à tela por algumas noites. Talvez essas mudanças não sejam suficientes para você ficar menos assustado, mas para mim foi o suficiente e estou feliz por ter tentado.