É divertido como a internet lida com spoilers hoje em dia. Algumas pessoas assistem horas de vídeos de teoria para saber o máximo de informações possível antes que algo seja lançado, e alguns acreditam que o quinto cavaleiro do apocalipse se chama Spoiler. Na verdade, eu fico no meio do muro: às vezes, saber um pouco mais é importante para me conectar à história, mas alguns segredos ficam melhor escondidos até chegar a hora de revelá-los.

Comecei a jogar CLeM sem saber muito sobre seu enredo e fiquei feliz que o jogo caiu nessa segunda categoria. Você acorda como um boneco de pelúcia que ganhou vida, com a missão de “trazer beleza” para alguém e um estranho caderno com a palavra “CLeM” na capa. Não há muito no caderno além de conceitos alquímicos, símbolos e insetos relacionados. Agora, seu objetivo é explorar a casa em que você está, tentando entender o que está acontecendo e quem você é.

CLeM

Não vou falar muito mais sobre o enredo do jogo, mas posso dizer que gostei muito de como ele se desenvolve a cada nova descoberta. Novos personagens são incluídos aos poucos, as coisas começam a ficar claras com novas informações... Não é nada surpreendente, e deu pra sacar o que estava acontecendo um pouco antes do final, mas fiquei intrigado com a história. Bateu um medo no começo porque sou um cagão e algumas coisas podem ser levemente chocantes (e até fora de tom), mas não precisa se preocupar com nada nesse aspecto.

Bem, se eu não sabia nada sobre a história, o que despertou meu interesse no jogo, você pode perguntar? CLeM se autodenomina um “puzzlevania”: uma mistura de quebra-cabeças e o conceito de metroidvania, um jogo de ação com um extenso labirinto como mapa e habilidades que ajudam o jogador a navegar por ele, abrindo novos caminhos. CLeM tem muitos elementos que você pode ver funcionando neste cenário — como brinquedos mágicos que funcionam como ferramentas para abrir fechaduras ou revelar segredos — mas não consegue trazer a mesma sensação de exploração de Castlevania ou Metroid.

CLeM

Na verdade, o jogo é extremamente linear. Em vez de usar as habilidades e quebra-cabeças para desbloquear naturalmente partes da casa que você está explorando, a trama é dividida por ciclos e capítulos bem determinados. Depois de cumprir o objetivo atual, você é enviado de volta ao local onde despertou e um novo ciclo se inicia, com um novo cômodo da casa aberto para ser explorado.

Você pode coletar alguns itens que só poderão ser usados em capítulos futuros, mas não há nada muito diferente de outros jogos point-and-click. Explorar a casa nesse contexto também não me deu aquela sensação de desvendar segredos, apenas se tornou um backtracking chato e lento em algumas partes. Porém, tem UM puzzle envolvendo livros que usa tão bem o conceito de mapa conectado que não consigo parar de pensar no potencial desperdiçado da ideia.

CLeM

MAS se você for jogar CLeM sem esperar que essa coisa de "puzzlevania" funcione, ele se torna um jogo de quebra-cabeça interessante e bem feito. Alguns puzzles parecem mais jogos de aventura – como encontrar itens em uma sala para combiná-los em outra sala – enquanto outros parecem saídos de escape rooms, com cifras para decodificar e padrões para encontrar.

Não existe um sistema de dicas propriamente dito, mas seu caderno é preenchido automaticamente com informações de puzzles (e da história) quando você entra em contato com objetos, servindo mais como um “guia rápido” para os dados que você já possui. Não que você precise de muitas dicas, a maioria dos quebra-cabeças tem regras bem comunicadas e soluções interessantes (mas não frustrantes).

É tão interessante ver uma equipe falhar em seu objetivo inicial, mas criando uma experiência incrível de qualquer maneira. Para mim um “puzzlevania” ainda é uma boa ideia que quero ver bem executada. Mesmo assim, CLeM é um jogo de quebra-cabeça muito bom, com enigmas inspirados em vários gêneros diferentes. Do inventário cheio de itens para se combinar aos códigos e padrões, e até mesmo os brinquedos mágicos usados como ferramentas: CLeM pode ter uma progressão linear, mas a diversão está espalhada por todo o jogo. E o grande mistério de tudo, “o que está acontecendo aqui?”, me atingiu com tanta força que precisei terminar o jogo numa tacada só. Se você também estiver curioso, talvez queira ver o que há dentro das páginas deste intrigante caderno.

O time de desenvolvimento me enviou uma cópia do jogo para que eu pudesse conhecê-lo e escrever esse texto. Obrigado pela confiança!